Por sobre a malta de seus eternos coveiros, o PT continua sendo o maior partido de
esquerda do Brasil, um dos maiores e melhores da América Latina e do mundo
Esclareço desde logo: em São Paulo, apoiei Boulos e Erundina desde a primeira hora.
Respeito as demais opções à esquerda. Esclareço: na paulistânia, Boulos, além de ser
um super-quadro, traz o vento favorável da renovação geracional, e injeta
racionalidade no PSOL, para longe do primarismo ressentido anti-petista que
caracterizou várias lideranças do partido, do norte ao sul, de leste a oeste. E Erundina,
do alto de seus oitenta anos, se renova, junto a Boulos.
Dito isto, sublinho: por sobre a malta de seus eternos coveiros, o PT continua sendo o
maior partido de esquerda do Brasil, um dos maiores e melhores da América Latina e
do mundo. Que se defenda a frente anti-bolsonaro que se queira: ampla, popular, de
esquerda, de centro-esquerda, etc. Qualquer delas, sem o PT, sem o Lula, não vai
prosperar.
Ao contrário do que alardeiam seus coveiros, o PT saiu-se galhardamente nestas
eleições municipais. Nunca um partido e suas lideranças foram tão enxovalhadas e
desacreditadas pela mídia mainstream do Brasil por tão longo tempo e com
argumentos tão falsos e contundentes, tão mais contundentes quanto mais falsos,
porque esta equação exige uma operação interna de quem nela embarca de mãos e pés
juntos, qual seja, aquilo que em inglês se chama “suspension of disbelief”, a
“suspensão da descrença”. No campo político isto significa o abandono de qualquer
espírito crítico e independente, para aderir à grosseria das falsificações mais
grosseiras. Não que o PT seja um convento onde entram apenas monjas e monges
“sans taches et sans reproche”, longe disto. Mas a mídia mainstream e os inimigos do
povo quiseram fazer dele o bode expiatório de todos os males que afligem o campo
político brasileiro e mundial. Jogaram em cima do PT a pecha de ser o partido mais
corrupto da nossa história, quase o fundador da corrupção; de ter jogado zilhões de
reais fora para ajudar regimes supostamente ditatoriais e comunistas. Na verdade,
nunca a corrupção foi tão investigada quanto sob os governos do PT; e foi sob estes
governos que o Brasil juntou o lastro indispensável de reservas expressivas em moedas
internacionais, para ser um receptor seguro de investimentos em escala mundial, já
que a nossa burguesia prefere cada vez mais investir suas polpudas reservas em
paraísos fiscais de reputação mais que suspeita, além dos supermercados de Miami. E
algumas vezes houve a ajuda de expressivas lideranças de esquerda: não me esqueço
das cenas televisivas da líder psolista, com sua camisetinha t-shirt, ombro a ombro
com Netinho (apelido mais carinhoso de ACM Neto), investigando as supostas mazelas
do suposto mensalão, cuja existência nunca foi provada e, parodiando o Ulisses de
Fernando Pessoa, “por não ter vindo, veio e ficou”. Mais ainda: pela esquerda, acusou-
se o PT e Lula de tudo. Desde terem “desarmado as massas”, que nesta visada estavam
sempre prontas para invadir o Palácio do Planalto como se fosse o de Inverno em São
Petersburgo em 1917, até terem desavergonhadamente favorecido o capital através do
incentivo ao consumismo por parte dos pobres e miseráveis.
Enfim, vou encurtar a história: nesta nossa, o PT veio para ficar. Ele faz parte
inalienável da pluralidade das nossas esquerdas. Já falei de Boulos e do PSOL; para não
dizer que não falei de flores, parodiando o Vandré, vamos de Manuela e PCdoB/PT em
Porto Alegre. E em tempo: os coveiros do PT ganharam agora um valioso aliado, o Sr.
Barack Obama, através de suas memórias; muito coerente, pois, afinal, a Lava Jato foi
gestada em sua terra durante seu governo.
*É jornalista, escritor e professor aposentado de literatura brasileira na USP.
Autor, entre outros livros, de Crônicas do mundo ao revés (Boitempo).