Ex-presidente, que viaja pela Bolívia em caravana após retornar do exílio, esteve próximo ao Salar de Uyuni, maior deserto de sal do mundo
O ex-presidente da Bolívia Evo Morales afirmou nesta terça-feira (10/11) que “garantir a independência tecnológica” na exploração de recursos naturais bolivianos, como o lítio, é fundamental para assegurar a soberania do país.
As declarações foram dadas em coletiva de imprensa realizada na pequena cidade de Colchani, onde Evo passou a noite após viajar mais de 290km em caravana desde a fronteira com a Argentina que atravessou nesta segunda-feira, marcando seu retorno do exílio iniciado com o golpe de Estado de 2019.
Colchani fica próximo ao Salar de Uyuni, o maior e mais alto deserto de sal do mundo que é reconhecidamente uma região rica em lítio, substância que a Bolívia afirma ter 70% de toda a reserva mundial.
“Queremos uma indústria do Estado e não privada. Isso nos garante uma independência em ciência e tecnologia. Essa é nossa meta. Pela minha experiência, depois de estar quase 14 anos na gestão pública, podemos garantir independência política, ideológica, programática, garantindo a independência econômica com a nacionalização dos recursos naturais”, disse.
Após o golpe de novembro de 2019, que forçou a renúncia de Morales e instalou um governo de extrema direita autoproclamado, o interesse externo na exploração do lítio boliviano foi classificado como um dos motivos da derrubada do governo de Evo. O próprio ex-presidente chegou a dizer que foi um “golpe contra o lítio”. Elon Musk, dono da gigante de tecnologia norte-americana Tesla, também já fez comentários sobre a abundância do produto na Bolívia e afirmou que daria “golpe em quem nós quisermos”.
A exploração do lítio na Bolívia é considerada de difícil execução devido às condições climáticas e geográficas do país. Isso trouxe adversidades para o governo boliviano durante a gestão de Evo pois, por um lado, o Estado não possui tecnologia capaz de criar soluções para a extração da substância e, por outro, a prioridade dada à exploração nacional fez com que grandes empresas privadas estrangeiras desistissem de convênios com o governo boliviano já que não teriam exclusividade na comercialização.

Após ser recebido na noite desta segunda por milhares moradores da região de Uyuni, o ex-presidente afirmou que o lítio é um recurso natural do povo e garantiu que “queremos uma indústria do Estado e não privada”.
Morales ainda declarou sobre possíveis projetos de exploração e industrialização do lítio em conjunto com outros países da América Latina, como Peru e Chile. Segundo Evo, um apoio mútuo dos países ajudaria a definir o “preço do lítio para o mundo e isso é soberania, é darmos as mãos”.
Analistas econômicos chegaram a batizar o lítio como “ouro branco”, devido sua importância para a produção de baterias e outras fontes de energia para equipamentos eletrônicos, sendo a maior aposta no segmento de carros elétricos.
Evo destacou que “os países industrializados do ocidente só querem os latino-americanos para garantir matéria prima” e disse que “para garantir a independência em ciência e tecnologia, os países latino-americanos devem trabalhar todos juntos”.
O ex-presidente retornou nesta segunda-feira (09/11) à Bolívia após passar um ano exilado na Argentina por conta do golpe de Estado que levou à derrubada de seu governo. A volta aconteceu em cerimônia realizada na zona fronteiriça entre a cidade argentina de La Quiaca e a boliviana de Villazón.
Agora, a caravana de Morales avança em direção a Oruro, com várias paradas e encontros com populações originárias e apoiadores. Em algumas dessas áreas, a população aguarda a chegada do ex-presidente com festa, atos e cerimônias. O destino final da caravana é a cidade de Chimoré e o trajeto está previsto para durar três dias. O local carrega um peso simbólico pois foi de onde Evo partiu para o exílio após ser pressionado a renunciar.